Um acidente de trânsito que matou uma universitária em janeiro de 2010 sofreu reviravolta. A investigação foi reaberta em fevereiro do ano passado, graças aos esforços do pai da vítima, que contratou dois peritos renomados, e o novo inquérito da Polícia Civil concluiu agora que houve homicídio. O engenheiro brasiliense Amir Miguel de Souza Filho, de 26 anos, pode pegar de 6 a 20 anos de prisão pela morte da namorada, a estudante de direito Isabella Maciel de Macedo e Moreira, de 23. Segundo o inquérito, após ingerir bebida alcoólica, ele capotou a caminhonete Mitsubishi L200 Triton, na qual estava a jovem, em estrada de terra em Buritis.

Em setembro de 2012, o pai da vítima, o empresário Eduardo Siqueira Moreira Soares, de 50, ex-funcionário de uma montadora de automóveis e com experiência em acidentes de trânsito, suspeitou que a filha tivesse sido assassinada. Contratou dois peritos de juizados cíveis e da Polícia Civil mineira para análises técnicas e comparação das avarias no veículo com os ferimentos no corpo da jovem.

O inquérito inacabado foi transferido de Buritis para Belo Horizonte. O delegado da Homicídios Sul, Frederico Abelha, refez as investigações, por determinação da Superintendência da Polícia Civil de Minas. Retornou a Buritis, ouviu testemunhas e mandou fazer novas perícias. Amir foi indiciado então por homicídio simples com dolo eventual. “Ainda que ele possa não ter desejado diretamente a morte da namorada, assumiu o risco de produzir o resultado morte”, disse. “Como foi em estrada de terra, à meia-noite, não temos como descrever a dinâmica do que aconteceu. Por isso, recorremos ao confronto pericial: o resultado pericial e a versão do autor. E o autor mente descaradamente”, sustenta Abelha. Várias testemunhas ouvidas pelo delegado confirmaram que o engenheiro ingeriu bebida alcoólica durante todo o dia na fazenda dele e depois na cidade, para onde o casal foi à noite. Eles estavam brigados e a estudante foi de Brasília atrás dele em Buritis. “Dentro do veículo tombado, havia latas de cerveja”, informou o delegado.

O delegado disse ter indiciado o engenheiro com base nas perícias oficiais. A assistência técnica prestada pelo pai da vítima, segundo ele, será oportuna no processo judicial. Mas houve consenso entre os dois trabalhos. “Os peritos judiciais afirmaram que as lesões produzidas na vítima não eram compatíveis com a versão apresentada pelo rapaz. Ele afirma que capotou o veículo em linha reta, a 40km/h, mas as lesões na namorada eram muito mais graves do que essa versão sugeriria. Inclusive, peritos afirmam que havia lesões que poderiam ser produzidas com ela estando do lado de fora do veículo”, afirma o policial. O inquérito já foi encaminhado à comarca de Buritis para julgamento e está na mesa da promotora de Justiça Fabiana Pereira.

O pai da estudante disse se sentir aliviado: “O caso seria arquivado como acidente comum. Corri atrás, contratei pessoas altamente qualificadas. Desde o início, percebi que havia uma montagem”, diz Eduardo Siqueira. Ele acredita em crime passional: “Minha filha terminou o namoro e ele não aceitou. Eles haviam discutido antes por telefone”.

Amir Miguel mora Brasília e não foi localizado. No depoimento à polícia, ele disse que o carro capotou uma vez ao passar por uma vala e ficou com as rodas para cima. Disse ter saído do carro para ver o estado de Isabella e ela estava com fratura exposta no antebraço esquerdo. Ela morreu a caminho de um hospital em Brasília.

Reportagem: Estado de Minas